domingo, 17 de fevereiro de 2013

Rumo ao Rajastan

Ok! Depois de dormir muitas horas e nos recompormos da viagem estafante até Delhi, é hora de seguir viagem... nós escolhemos deixar para conhecer Delhi no final da viagem, pois todos dizem, e nós concordamos, que capitais são sempre capitais, normalmente a cultura é mais preservada no interior e é para lá que vamos!
Então, pulamos da cama bem cedo e fomos tomar café da manhã. Primeira surpresa: havia saladas e massas para o café da manhã, as oito da manhã! Ok, também tinha pão, chá, ovos, suco... mas massa e salada foi surpreendente! Mas, essa foi só a primeira surpresa do dia ( o Daniel adorou, claro! Experimentou tudo).
Conhecemos nosso motorista, que nos acompanhará pelos próximos 10 dias por todo o Rajastan. Ele é nepalês, chama Shiam,  é casado, tem duas filhas, um filho e uma irmã da minha idade que estuda medicina. Isso mesmo, é assim que as pessoas se apresentam por aqui, falam de si, da família e do que fazem... nós também nos apresentamos e partimos.
Seriam cerca de trezentos e cinquenta quilômetros até Mandawa, nossa primeira parada, e cerca de sete horas de viagem... isso mesmo! E a primeira coisa que Mr Shiam nos disse quando viu nossa cara de espanto com o longo tempo previsto para viagem foi: "isso é a Índia,  na Índia tudo é possível".
Ok! Diria minha avó que o que não tem remédio, remediado está! Lá vamos nós!
No início da viagem, na primeira hora, mais ou menos, a estrada era grande e relativamente boa, como a Dutra, por exemplo, mas com o trânsito da Índia, o que quer dizer que não há faixas de rolagem, os carros não dão seta e se aparecer uma vaca, para tudo pra ela passar. Mas, assim que saímos da grande Delhi, o que seria a grande São Paulo, as estradas, opa,  a estrada, passou a ser de mão dupla, esburacada,  sem pintura de faixa ou outra sinalização qualquer e com as beiradas cheias de pequenas bancas, lojinhas e animais, principalmente vacas... começamos a entender que talvez sete horas de viagem não seriam suficientes!
No caminho pelo estado de Haryana,  haviam infinitas plantações de uma espécie de vagem,  um vegetal muito típico da Índia, que tem uma florzinha amarela, o que torna os campos da beira da estrada uma paisagem muito bonita de se ver. Era possível encontrar mulheres, com saris muito coloridos, caminhando na beira da estrada com ferramentas tipo facões... são elas que cuidam da plantações. Também encontramos carroças puxada por camelos, dezenas delas, tudo que se precisa transportar por aqui, se carrega em carroças de camelos... dizem que estes são os navios do deserto.
Outra coisa que nos chamou atenção foram as motocicletas com até cinco pessoas!  Isso mesmo: 5 pessoas! Isso é comum. Como também é comum viajar em cima do ônibus!  Ahã,  isso aí, se o ônibus tiver cheio, não tem problema, é só subir pela escadinha que se encontra na parte traseira e sentar lá em cima.
Encontramos também uma infinidade, vejam bem, uma infinidade, cerca de 50 carros de casamento! Na Índia, as pessoas casam no dia que o Bhramani, o sacerdote, disser que é melhor, a partir do mapa astral dos noivos! Precisa ser uma data auspiciosa e não importa se é dia de semana ou fim de semana... tudo pára para o casamento. Pelo jeito, esses foram dias aupiciosos para muitos noivos!  Como a festa de casamento na Índia dura três dias, não sabemos ao certo em que dia foi o casamento, nosso guia nos disse que o primeiro dia é dedicado a cerimônia nos templos e a percorrer uma série de locais que significam o circulo da vida; o segundo dia é dedicado a festa com as famílias; e no terceiro dia, a festa de casamento continua, mas os novos podem partir rumo a lua de mel. Durante estes três dias, o carro de casamento permanece enfeitado e leva os noivos por todos os lugares que forem necessários. Pois é, nós encontramos muitos carros, então, muito noivos se locomovendo!
Nas beiras das estradas, também pudemos ver pessoas que lidam com os cocôs de vaca... eles provavelmente viram adubo, então são secos em montinhos...
Vou novamente falar do trânsito, é necessário citar que de qualquer lugar na beira da estrada pode sair qualquer tipo de veículo... é possível que seja necessário freiar bruscamente, desviar, businar (sempre!)... os pedágios também são curiosissimos! Pequenas casinhas, sujerrimas,  com homens diversos, dentro e fora, que vc nunca saberá quem trabalha ali e quem está só batendo um papinho! Ah, todos pagam pedágio, até camelos e burros!
Quando a fome apertou, paramos em um restaurante,  mas era muito caro... lugar de turistas no meio do nada... tomamos só um refri, recebemos uma nota rasgada de troco , que tivemos que voltar e trocar,  pois Mr Shiam disse que não valia, e seguimos viagem.
Mr Shiam comprou umas frutinhas indianas para o Dani,  eu não gostei... ficamos pensando em como lavar, depois desencanamos e comemoS! Compramos bananas na beira da estrada e eu experimentei uma espécie de pão parecido com um pastel de vento... aqui eles recheiam o pastelzinho, mas o recheio não tinha uma cara boa e era colocado com a mão... fiquei só com a massa e o vento mesmo! Bem comivel!  Kkk
Passamos por diversas cidadezinhas,  e nessas horas o trânsito ficava pior, pois havia muita gente, animais e tuctucs nas ruas... chegamos em Mandawa por volta das 4 horas.

MANDAWA, a cidade dos pekokis!

Quando entramos em Mandawa, depois da viagem de muitas horas, minha ficha começou a cair... de fato, Delhi provavelmente é só mais uma capital... tudo que vimos na viagem e as coisas com as quais estávamos nos deparando agora, me chamaram a atenção sobre o que eu queria ver quando decidi vir pra cá!
Mais um hotel no meio do nada, mas desta vez, um lugar lindissimo,  um hotel onde, no passado, foi a casa de grandes comerciantes hindus do ciclo da seda. Hoje, a maioria das famílias destes antigos comerciantes é dona de hotéis na Índia ou têm suas propriedades aqui, administradas por outros e vivem na Europa.
Nós recebemos um up grade de quarto quando chegamos, não sei porque. Sei que ficamos em um quarto enorme, com uma pequena sala e uma janela com assento, como vocês poderão ver nas fotos. O hotel inteiro é no estilo das casas antigas, chamadas havelis,  que têm arabescos esculpidos em pedras nas suas fachadas e, em Mandawa especificamente, pinturas por todas as paredes, algumas somente motivos hindus abstratos e outras com pinturas de deuses, passagens da mitologia hindu e até figuras do kamasutra.
Fizemos o check in e saímos por Mandawa, com um guia da cidade chamado Mug. O passeio neste dia foi breve, pois já estava entardecendo. Pudemos andar pela cidade, ver as pessoas, os animais nas ruas. Aqui, as mulheres se vestem de maneira muito tradicional, diferente de Delhi; não vimos nenhuma com roupas ocidentais e algumas até mesmo andam com os rostos cobertos. Percebemos que as vacas sagradas da rua, na verdade são bois, porque as vacas podem entrar nas casas, pois as pessoas as alimentam e tiram o leite. Não há propriedade sobre elas,  no entanto, que saem quando querem!
Conhecemos algumas havelis bem antigas, Mug foi nos explicando sobre as pinturas, a arquitetura e a história de da uma delas. Por fim, fomos a uma havelis muito grande, antes de uma família muito rica, agora sendo cuidada por uma família local. O cuidado da casa nós mostrou e explicou sobre ela... infelizmente as pessoas não têm como manter e preservar as casas e o governo não oferece nenhum tipo de ajuda, muitas estão em péssimo estado de conservação. Nesta última casa, mora uma família, um casal com três filhos e os país, eu acho. Eles vivem das entradas que cobram para visitação da casa e de fazer artesanatos locais. Comprei uns artesanatos de elefantes, muito bonitos e bem feitos, mas um pouco caros... acho que não me importei, pois tenho certeza que o dinheiro será imporante,  mas minha caridade vai ter que parar por aqui, este e um país muito pobre e se for assim, não terminaremos a viagem por falta de dinheiro.
O dia já estava terminado de verdade e só falta contar que vimos o pessoal de Bollywood preparando coisas e cenários para uma filmagem na cidade (muito bacana) e, o mais importante, explicar o subtítulo desta parte da história... Pekokis, pavões em inglês, são a marca registrada de Mandawa, eles estão por toda parte, muitos e muitos, como pombos ou pardais, segundo o dono da haveli que visitamos,  são cerca de cinco mil deles em Mandawa e arredores... uma beleza singular que começa traduzir o sentido de "na Índia tudo é  possível"!

De volta ao hotel, jantar vegetariano, com cerveja indiana do mercado negro, pois nunca está no cardápio, muito ruim, por sinal. Aliás, a cerveja chama Kingfisher e tem um beija-flor no rótulo! Antes de dormir ainda assistimos um teatro de marionetes e depois, finalmente, cama no silêncio desta cidade, far far  away de Delhi!

Ah, à quem interessar saber detalhes de valores para planejar futuras viagens pela Índia, deixe um recado com email e podemos mandar... como estamos viajando ainda e o blog é público, algumas coisas achamos melhor não tornar público, mas podemos mandar in Box sem problemas.

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